Confira a história centenária da Banda da Lapa na linha do tempo a seguir. Texto obtido por relatos de Alécio Heindenreich em 1991 e adaptado do original, publicado no livro “Ribeirão da Ilha vida e retratos: um distrito em destaque”, de Nereu do Vale Pereira e Francisco do Vale Pereira (Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 1991. 502p.) e também de depoimentos de Douglas Lapa da Silveira, Fabiano Feliciano e Dhiogo Cardoso.
Por volta de 1870, vivia na Freguesia de Nossa Senhora da Lapa, hoje Ribeirão da Ilha, um povo cuja atividade principal era a pesca. Poucos eram os que se dedicavam à cultura da terra. Embora fosse um povo com baixo grau de escolaridade, sabiam apreciar as artes, principalmente a música. Tinham como costume nas noites quentes de luar, sentarem-se nas calçadas até altas horas da noite para cantarem ao som do cavaquinho, violão, pandeiro e outros instrumentos populares.
O amor pela música fez com que numa daquelas noites alguém falasse em fundar uma banda de música. Todos riram, parecia uma piada. Mesmo assim, a idéia foi crescendo. Liderada por Benevenuto Silva, Fabriciano Souza, João Rosa e outros, conseguiram, não sabemos como, nem onde, um instrumental em péssimas condições de uso. Nascia a primeira banda do Ribeirão.
Para fazer os instrumentos funcionarem era preciso eliminar os vazamentos com cera de abelhas. A quantidade de cera empregada chamava a atenção do público que não perdeu tempo em denominá-la a “Banda da Cera”, esquecendo o seu verdadeiro nome: “Sociedade Musical Amantes do Progresso”. O apelido não incomodava os músicos. O importante era a presença da sua bandinha em todos os eventos.
O tempo passou e nenhum outro equipamento foi adquirido e por isso a deficiência do material aumentava. Os recursos empregados na recuperação não funcionavam totalmente, dificultando a execução das músicas. Diante da situação, numa festa de Nossa Senhora da Lapa, o povo percebeu e sentiu que alguma coisa deveria ser feita imediatamente, antes que a bandinha desaparecesse. A comunidade não aceitava mais a hipótese de ficar sem música nas suas festas. Já haviam se passado, até então, 25 anos de alegria. Diante do problema que se apresentava, Hermínio Silva, Gustavo Fenner, Macário Wolf, José Carl Heidenreich e outros, tomaram a iniciativa e fundaram uma segunda banda no Ribeirão, a Sociedade Musical Nossa Senhora da Lapa em homenagem ao dia da sua santa padroeira, na festa do dia 15 de agosto de 1896
Na época, a banda Sociedade Musical Nossa Senhrora da Lapa conseguiu recursos e importou da Alemanha, através da firma Carl Hoepcke, um instrumental novo (a nota fiscal fatura desta compra no valor de 580 marcos, encontra- se no Ecomuseu do Ribeirão da Ilha). A “Cera”, apesar de muito distanciada da sua co-irmã no que diz respeito a equipamentos, levava a vantagem no material humano – seus músicos eram mais experientes A chegada do instrumental foi num dia de festa. Até a “Banda da Cera” compareceu com seus velhos instrumentos para homenagear, executando um dobrado. Apesar de ferida no seu orgulho, reagiu e continuou humildemente o seu trabalho, executando belas melodias nas mesmas condições da sua rival, mesmo à base de cera.
A partir daí, a Freguesia de Nossa Senhora da Lapa passou a ter duas bandas em todos os eventos religiosos, cívicos, carnavalescos e outros. Uma disputa começava. Os ensaios eram escondidos, em locais e datas alternadas e até de madrugada, para evitar que uma banda conhecesse o repertório da outra.
Durante muitos anos elas apresentaram-se lado a lado, disputando a preferência do público, até que um dia aconteceu o que o povo acreditou ser um milagre de Nossa Senhora da Lapa. Como de costume, numa festa, as duas bandas apresentavam-se normalmente. Era sábado à noite. Lá pela meia-noite o povo foi se retirando, ficando somente as duas bandas – nenhuma delas queria sair primeiro. Virou competição. Às 4 da madrugada, juntaram-se
para fazer um lanche. Não havia inimizade. Após o lanche, voltaram a postos e cada uma executava uma peça como se estivessem em plena festa.
O dia amanhece, começa a chegar o povo e a festa continua: missa, procissão e encerramento. As bandas voltam a seus postos. Os familiares já preocupados com a situação, e os sem-pressa “soprando fogo” para ver no que ia dar. Eis que o povo chamou de milagre: uma tempestade se formou e veio com tudo, embora o tempo estivesse bom. A correria foi geral não houve vencedor. Acabou a competição.
O tempo passava e uma coisa as duas bandas não
podem mais evitar: o desgaste material. A Banda da Cera sentia a aproximação do fim de suas atividades, tendo emvista o alto grau de desgaste de seus instrumentos e a falta de recursos para substituição. Os músicos reconheceram com tristeza que não podiam mais continuar o seu trabalho. Para os mais insistentes e apaixonados pela música, só restava uma solução: juntar-se à Sociedade Musical Nossa Senhora da Lapa, que por sua vez, lamentava a extinção de sua rival e acolhera com todo o carinho os velhos artistas, reforçando assim o seu quadro. Agora a banda sabia que estava só e teria que fazer o papel das duas.
Em 1935, a Sociedade consegue recursos mais uma vez e adquire um novo instrumental. Desta vez, nacional, pois já havia fabricação desses instrumentos no Brasil. As atividades continuavam normalmente. As apresentações eram feitas em todas as localidades vizinhas e até no continente. O povo orgulhava- se de ter a sua banda, sendo lugar tão pequeno. Sabiam que em muitas cidades grandes não existia e que em outras existira, mas acabara por falta de recursos.
Passaram-se 15 anos. Os instrumentos, agora nacionais – enfrentando muitas vezes transporte pelo mar, não tinham a mesma resistência daqueles importados da Alemanha, que duraram 30 anos – começaram a apresentar problemas. A solução era um novo instrumental, porém a falta de recursos era total e não havia condições de substituir nem ao menos alguns instrumentos já fora de uso. Um apelo foi feito à comunidade, que não se sensibilizava, e então a banda começava a diminuir suas apresentações.
Finalmente chega agosto de 1951. Era dia de festa de Nossa Senhora da Lapa e a banda não pôde comparecer. O povo lamentou e chorou a sua falta, mas reconheceu que era responsável por tal situação, não atendendo aos apelos dos músicos.
Foi uma festa triste para quem já teve duas bandas. Éramos jovens e talvez os mais tristes, por falta de música. Na época ainda não havia energia nem som eletrônico. Não parecia ser dia de festa.
Terminada a missa, o povo recolheu-se à sua casa. Nada havia que pudesse segurá-los na festa, faltava a banda. Conversamos com alguns músicos que estavam presentes, tristes e inconformados. Neste mesmo dia foi marcada uma reunião à noite na casa do músico João Ávila para estudar as possibilidades da reorganização imediata da banda. Naquela reunião compareceram todos os músicos, mais dezessete jovens interessados em ingressar na banda. Discutiram todos os detalhes até altas horas da noite para contratar um maestro, acertar problemas de hospedagem, transporte e outros.
Começava nova luta. Vários instrumentos novos foram encomendados pelos pais dos participantes, e os antigos foram encaminhados à fábrica para total recuperação. Enquanto isso, os novatos recebiam aulas intensivas de teoria musical. Três meses se passaram. Enfim chegaram os instrumentos e começaram os ensaios práticos, que duraram nove meses.
Quando chegou agosto de 1952, dia da festa de Nossa Senhora da Lapa,a expectativa era grande. Todos aguardavam a bandinha que chegava com dezoito componentes, vindo na frente 5 veteranos para dar coragem aos 13 novatos que apresentavam-se em público pela primeira vez. Tudo pronto. O maestro Brasílio Machado levanta a batuta e o dobrado de sua autoria, composto especialmente para este momento, é executado: “Ressurgimento”. “Viva a banda! Nunca mais a deixaremos cair!” Era o que se escutava entre os aplausos e choros de emoção. Tudo promessa vã. A banda não precisava mais do apoio do povo. Já tinha instrumentos e uniformes novos.
Algum tempo depois, nossos pais já cansados, entregaram-nos a bandeira de luta. Uma nova etapa se iniciava. Dois anos depois, o maestro Brasílio Machado foi embora. Assumira a regência interinamente Oscar Silva. Nesse período passaram por aqui os maestros Aristides, Onofre e Lavinho.
Em 1968 conseguimos o maestro Paulo Cordeiro Dutra, que se tornou um membro da família de cada músico, por causa de sua grande bondade. Através dele veio seu irmão Nilo Cordeiro Dutra, clarinetista “cinco estrelas”, e o Sr. Manoel Marcos da Silveira (vulgo Canhoto), especialista em recuperação de instrumentos.
A morte destes amigos nos deixou muito tristes e abalados. Um acontecimento que não posso deixar de registrar e me deixa emocionado cada vez que relato: o Senhor Canhoto, meu particular amigo, sempre quando eu ia levá-lo em casa, no Estreito, após os ensaios, falávamos de nossos problemas pessoais, mas sempre a conversa recaía na banda e nas dificuldades para mantê-la ativa. Uma delas, o lugar para os ensaios, que eram sempre locais cedidos gratuita e temporariamente por alguém. Por isso mudamos de local umas dez vezes. Depois, os instrumentos e os músicos - que moravam até 30 km longe do local dos ensaios, como era o caso do maestro Paulo Dutra e seu irmão Nilo Dutra, entre outros.
Naquela época, o ônibus para o Ribeirão tinha só um horário, vindo para o centro de manhã e voltando à tardinha. Por isso, eu tinha que levá-los em casa após os ensaios, deixando-os em suas residências para depois então ir dormir sentado no meu fusquinha em frente à repartição onde trabalhava. Isto durou vinte anos.
Em 1988, na Festa do Divino Espírito Santo, no Ribeirão, logo no início do desfile do cortejo, meu instrumento pifou. Quando chegamos na igreja fomos ao barracão. Lá chegando, comentei com os colegas o meu problema. Tentei desesperadamente descobrir o defeito, não conseguindo. Os outros músicos também tentaram, tudo em vão.
No meu desespero rezei e falei em voz alta a meu amigo Canhoto, que já havia morrido: “Quanta falta o Senhor me faz, por favor, me ajude!” Dito isto, alguns minutos depois disse aos colegas que ia em casa ver outro instrumento que estava indo para o conserto. Ao me levantar, alguma coisa me fez experimentar novamente o instrumento. Para nossa surpresa ele estava perfeito, parecia novo. Todos ficamos estupefatos. Um deles comentou: “Meu Deus, ele te escutou! Foi ele!” Muito obrigado meu amigo, o senhor continua em nossos corações.
Em 1992, o maestro Paulo Dutra afastou-se para tratamento de saúde e não pode mais voltar. Regeu a banda até 1993, Cid, meu irmão. Foi quando chegou o maestro Mário João Daniel que, com sua experiência de mestre e arranjador “cinco estrelas”, aceitou nosso convite e levou a banda ao auge de sua história, arrancando do público aplausos e elogios em todas as apresentações.
Em 1996, a Banda comemorou seu aniversário de 100 anos com um grande festival de bandas no Ribeirão da Ilha. Além da Banda da Lapa participaram da festa do centenário as bandas: Banda Amor à Arte, Banda Amor à Pátria (Jaguaruna), Banda Unidos de Imaruí e Filarmônica Comercial. Cada banda se apresentou por cerca de 1 hora no salão paroquial nas proximidades da Igreja da Nossa Senhora da Lapa.
Por ocasião do Centenário da banda, o então regente, Sr. Mário João Daniel compôs o dobrado XV de Agosto, especialmente para ser executado nas comemorações. Acesse a página do acervo da banda e veja o dobrado.
Ao final do evento, todas as bandas saíram juntas em desfile pela praça da Freguesia do Ribeirão da Ilha tocando o Dobrado Dois Corações (Pedro Salgado).
Alguns prêmios foram entregues e homenagens foram feitas aos músicos de todas as bandas durante essa festividade, um dia inteiro marcado por bastante confraternização e música instrumental.
Somente em 1998, após mais de 100 anos sem um espaço próprio para ensaios, a banda finalmente conseguir construir sua sede no Ribeirão da Ilha. Esse marco importante somente foi possível graças a um grande esforço coletivo dos músicos que se mobilizaram na época realizando bingos, rifas e, também ao apoio de contribuições voluntárias dos sócios e pessoas da comunidade.
Clique aqui e veja o post sobre a reforma da sede da Banda
Com o surgimento da Internet, das redes sociais e de novas tecnologias relacionadas ao mundo musical, esse período foi marcado por significativas inovações na banda. Os registros, tanto de fotos como de vídeos de apresentações da banda, agora passaram a ficar mais acessíveis a um grande público. Livros e materiais didáticos de toda parte do mundo puderam a partir de então ser obtidos com um click por meio de computador ou celular, facilitando agora os estudos.
A banda incorporou instrumentos musicais inéditos em sua formação, como o contra-baixo elétrico, o teclado/piano digital e a guitarra elétrica. Além disso, duas trompas sinfônicas foram adquiridas em para compor os instrumento de sopro. Com isso, os arranjos musicais tiveram que ser adaptados e ficaram mais completos.
As partituras escritas à mão praticamente deixaram de existir, dando lugar agora à mordenidade das partituras impressas e elaboradas em sistemas de computador.
Esse período também foi marcado pelo ingresso das primeiras mulheres na banda. Fabiano Feliciano relata que a primeira mulher a tocar com a Banda da Lapa foi Josiane Cruz, saxofonista formada em outra banda (Filarmônica Comercial), onde seu pai atuava como trompetista. Já a primeira mulher formada efetivamente pela banda, aprendendo música e instrumento na própria instituição, foi Maria Cristina, que se destacou como clarinetista.
Em 20 de Setembro de 2016, a Banda fez uma apresentação no Teatro Álvaro de Carvalho (projeto TAC 7:30) em comemoração aos seus 120 anos. Com ingressos esgotados, a apresentação foi uma das mais importantes e que pode ser inteiramente registrada em vídeo. Sob a regência do maestro Wellington Correa, nesse dia memorável a banda conseguiu reunir na plateia muitos ex-integrantes que passaram pela banda, amigos e admiradores, além de algumas participações especiais de músicos e cantores durante o espetáculo.
O repertório da apresentação contou com músicas como: pout-porri de Milton Nascimento e de Vinícius de Moraes. Carinhoso (de Pixinguinha), uma versão cantada de Malandragem, de Cazuza, Medley de Amy Winehouse (arr. Dhiogo Cardoso) e Tim Maia, Dancing with Strangers (Yanni) entre outros. No final do show, a banda se levantou e saiu tocando marchinhas de Carnaval no meio do público, relembrando os tempos de Zé Pereira.
Clique aqui para assistir toda a apresentação.
Em janeiro de 2017, a convite do Museu da Imagem e do Som (MIS/FCC), a banda teve a honra de participar do projeto Cinema ao Vivo. Nesse projeto, a banda realizou diversas apresentações ao vivo, tocando trilhas sonoras ao vivo do filme O Circo, de Charlie Chaplin (1928). O Cinema ao Vivo remonta às origens do cinema, em que, devido às limitações tecnológicas da época, a trilha sonora era executada ao vivo durante cada exibição. Mais um grande fato histórico e inédito para a Banda da Lapa.
O primeiro espetáculo ocorreu no Teatro do CIC, com ingressos gratuitos que se esgotaram rapidamente. O sucesso foi tão grande que, no dia do evento, a organização solicitou à banda uma segunda sessão para atender à alta demanda do público. Apesar do cansaço, a banda aceitou o desafio e realizou uma nova sessão para uma plateia também lotada. Após o sucesso inicial em Florianópolis, meses depois o projeto também foi levado para outras cidades, como Araranguá e Braço do Norte.
A trilha sonora foi criada a partir de uma combinação de adaptações das músicas do próprio filme e do repertório instrumental da banda, cuidadosamente selecionadas para capturar as emoções de cada cena. O maestro Wellington Correa contava com o roteiro detalhado e duração das cenas para orientar a banda, garantindo que as músicas fossem finalizadas e iniciadas no momento exato. Para facilitar a leitura das partituras durante as apresentações, realizadas em ambiente escuro, a Base Aérea cedeu luminárias especiais que permitiam aos músicos enxergar suas partituras sem comprometer a experiência visual do público durante a exibição do filme.
A banda estava vivendo talvez o seu melhor momento. Em Dezembro de 2019, após uma apresentação de Natal no Ribeirão da Ilha e confraternização na sede da banda, Seo Alécio comentava feliz que nunca tinha visto a banda tão bem.
Infelizmente, em 2020 chega a pandemia da COVID-19 e o mundo inteiro é obrigado a se fechar em casa por motivos de calamidade sanitária. Então, pela segunda vez em sua história, a banda precisou fechar suas portas e suspender, por tempo indeterminado, suas atividades presenciais..
Nesse período, o uso da internet e redes sociais foi marcado por muitas apresentações musicais on-line. Foi que então a banda também gravou, de modo remoto, cada músico em sua casa, um vídeo tocando o dobrado Dois Corações (Pedro Salgado) e também a canção Banda da Lapa: um sopro de esperança (Marta Magda Antunes Machado).
Felizmente, nesse período, nenhum músico ou diretor da banda veio a falecer por conta da pandemia.
A pandemia de COVID-19 impactou severamente a banda, impossibilitando a realização de atividades musicais por um longo período e resultando em dificuldades financeiras. Além disso, vários músicos instrutores se desligaram da banda, incluindo alguns militares da base aérea. Entre eles estavam o maestro Wellington Correa, casado com a clarinetista Valéria Martins, e o trombonista Cleiton Freitas, figuras atuantes que pertenciam à dretoria da banda na época. A saída ocorreu porque a banda da base aérea foi transferida para o estado do Pará.
Em 2021, uma nova diretoria foi eleita para a Banda da Lapa. Douglas Lapa da Silveira, saxofonista da banda, morador do Ribeirão da Ilha e com uma longa história dedicada à instituição, assume os cargos de presidente e maestro. Os desafios dessa gestão, especialmente durante a pandemia, foram significativos. Nesse momento já se sabia que que o setor de eventos, principalmente o musical, seria um dos últimos a poder voltar às atividades, e consequentemente, isso iria ter um impacto finnceiro bastante ruim na banda. Mesmo assim, com a ajuda e participação dos músicos, diversos avanços importantes ocorreram, como a reforma do estúdio musical na sede da banda, a mudança de "sociedade" para "associação" e o início do projeto da escola de música anos depois.
Somente no final de 2021 a banda retomou os ensaios em sua sede, de forma bastante limitada e com a participação de poucos músicos, preparando-se para a apresentação na procissão de Nossa Senhora da Lapa, no Ribeirão. Nesse primeiro ensaio após a pandemia de COVID-19, a banda tocou o dobrado Ressurgimento, uma referência simbólica às comemorações de retorno de suas atividades em 1952.
Ainda em 2021, por meio do trabalho de conclusão de curso do músico e pesquisador Artur Hugo da Rosa, as bandas de Florianópolis, Banda da Lapa, Amor à Arte e Filarmônica Comercial, são reconhecidas e ganham o título de como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial ou Intangível do Município de Florianópolis pelo decreto nº 23.408/2021.
"Para a Banda da Lapa, os benefícios em se tornar um patrimônio cultural imaterial de Florianópolis é o reconhecimento da atuação cultural na cidade, a preservação da identidade cultural e da memória musical de Florianópolis. Permite também o acesso a editais de fomento dedicados a categoria de patrimônio cultural e também garante a legitimação do título para captação de projetos via leis de incentivo. Se criado uma comissão com membros das três bandas, junto à secretaria de cultura e membros da sociedade civil, é possível também pensar em planos de salvaguarda, criando coletivamente ações viabilizadas pela prefeitura em conjunto com as bandas, que valorizem, difundem e perpetuem as atividades destas instituições centenárias." - comenta Artur Hugo da Rosa.
A banda surgiu no contexto das festividades religiosas da comunidade do Ribeirão da Ilha, acompanhou muitas procissões, mas ainda não tinha participado de celebrações de matrimônio de casamento. Em 2022, um casal de noivos que moravam no Ribeirão e que tinham um carinho especial pela banda a convidaram para tocar na saída da sua cerimônia de casamento na Igreja. A banda aceitou o convite e no dia fez a trilha da saída dos recém casados tocando o Rancho de Amor à Ilha (Zininho), hino de Florianópolis e o dobrado Dois Corações (Pedro Salgado).
Em 2023, pela primeira vez em sua história, a banda foi contratada para tocar em uma cerimônia de casamento. Os noivos, apaixonados por música instrumental, procuraram a banda para criar uma trilha sonora especial, tanto para as entradas e momentos da cerimônia quanto para um animado arrastão festivo após o evento, com marchinhas de carnaval.
O casamento aconteceu em um hotel à beira-mar, na Praia dos Ingleses. O repertório foi cuidadosamente selecionado pelos noivos, e todos os arranjos musicais foram criados por Dhiogo Cardoso, músico experiente na área de casamentos e também reconhecido por seu talento como arranjador na banda. Além das músicas instrumentais, algumas canções foram interpretadas pela cantora e trombonista da banda, Karina Diaz. A expectativa para o evento era alta, e o resultado superou todas as previsões: o casamento foi um sucesso. A experiência motivou a banda a buscar novas oportunidades para participar desse tipo de celebração, ampliando ainda mais sua atuação em eventos especiais.
Desde a pandemia, a banda enfrentou uma redução no número de músicos. Para reverter essa situação, a escola de música foi retomada em 2024, com o objetivo de formar e integrar novos músicos à banda. Mantendo a tradição centenária de ensino voluntário e gratuito, a banda ofereceu aulas de teoria musical e prática instrumental em diversos instrumentos, como flauta transversal, clarinete, saxofone, trompete, trombone e percussão.
Ao final do curso, 13 aprendizes se tornaram aptos e puderam entrar na banda. Esse projeto contou apenas com recursos próprios da banda e teve como instrutores os músicos: Douglas Lapa da Silveira (saxofone tenor), Bárbara Martins (clarinete), Camilly Victória (flauta transversal), Matheus Silveira (Trombone de pisto e trompete), Mateus (Trompete), Wilton (Trombone de Vara), Dhiogo Cardoso (sax-alto) e Fabiano Feliciano (Teoria Musical).
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